O CORTIÇO
RESENHA
Aluísio de Azevedo usa um discurso em terceira pessoa, com um narrador onisciente, desloca o foco narrativo da maneira que melhor lhe convém para contar a história de João Romão empregado de um vendeiro que, ao voltar para sua terra, deixou-lhe como pagamento de ordenados vencidos, a venda com o que estava dentro e mais um conto e quinhentos.
João Romão, avarento e mercenário, juntou-se com Bertoleza, uma quitandeira que também trabalhava muito. Escrava de um senhor e viúva de um português, ela vinha guardando dinheiro para sua alforria e, com esse dinheiro, João Romão comprou o terreno onde começou a construção do cortiço.
Instintivamente Bertoleza procurava alguém de uma raça superior, e por isso, juntou-se ao vizinho dando o máximo de si, trabalhando de sol a sol para ajudar o amante, que na ânsia do enriquecimento rouba, explora e até escraviza a companheira.
O conflito começa quando Miranda, um rico atacadista de tecidos, se instala no sobrado, ao lado da taberna de João Romão, que fica cada vez mais determinado a enriquecer, construindo casinhas e alugando para brasileiros, portugueses, negros, mulatos; e o cortiço cresce e torna-se um agrupamento humano de pessoas excluídas, os pobres, os humildes e de todas as raças.
Os preceitos naturalistas de que o meio determina o homem aparece quando moradores do cortiço, como Jerônimo, um homem forte, trabalhador e honesto que vivia para sua mulher Piedade se apaixona por uma morena, bonita e sensual que gosta festas a Rita Baiana e depois de deixar a esposa e viver com ela, passa a ser preguiçoso e malandro evidenciando a influência da cultura brasileira sobre a portuguesa.
Quando Miranda recebe o título de barão, João Romão percebe que ter dinheiro não é suficiente e passa a ter desejos de ascensão social; ele reforma todo o cortiço e a sua taverna passa a um prédio melhor que o do vizinho, para mostra poder. Depois ele se aproxima de Miranda e pede a mão de sua filha em casamento para assim, ascender socialmente, tornando-se um aristocrata.
Bertoleza, não aceita a traição do amante e exige desfrutar de tudo que construiu junto a ele, e passa a ser uma pedra no sapato de João Romão que planeja entregá-la ao herdeiro de seu dono. Ao perceber que foi enganada o tempo todo por João Romão e que não terá saída se não voltar à escravidão, Bertoleza se suicida, deixando livre o caminho para o sórdido João Romão.
Aluisio de Azevedo descreve uma existência miserável e denuncia os preconceitos e a exploração do homem pelo mesmo homem, em o cortiço ele denuncia as diferenças, as mazelas sociais e morais da época.
Os escritores naturalistas, como os realistas, procuraram dar ao texto um caráter imparcial, mais focado ao “olhar científico” com que buscam tratar as personagens. A descrição dos ambientes cria a realidade de maneira “fotográfica”, que montam um quadro final claro e preciso. Segundo o crítico Alfredo Bosi, o escritor naturalista Aluísio de Azevedo “[...] em O Cortiço atinou de fato com a fórmula que se ajustava ao seu talento: desistindo de montar um enredo em função de pessoas, ateve-se à sequência de descrições muito precisas onde cenas coletivas e tipos psicologicamente primários fazem, no conjunto do cortiço a personagem mais convincente do nosso romance naturalista.” (p. 190)
“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. [...]”
O crítico literário Domício Proença descreve esta característica da escola literária, dizendo que “há no Naturalismo uma acentuada preferência por temas de patologia social com a mesma intenção realista de reformar a sociedade. Na obra são encontrados verbos e substantivos para mostrar a animalização das personagens. Além de referir-se a elas como “machos” e “fêmeas”, o narrador ainda usa verbos que normalmente são utilizados no trabalho com animais, como o verbo “escova”, geralmente usado no trato com éguas.
“Escove-a, escove-a! Que a porá macia que nem veludo! [...]”
A característica marcante do Realismo – Naturalismo é o esvaziamento dos ideais do Romantismo, que até então jamais mostraria a intimidade dos amantes, agora expõe a sexualidade explícita nos textos naturalistas.
“[...] a cabeça ora para a esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão de gozo carnal, num requebrado luxurioso e ofegante... a tremer toda, como se fosse afundando num prazer grosso que nem azeite... [...]”
Nesse respeito, o crítico Antônio Cândido e José Aderaldo Castello, explicam esse esvaziamento do Romantismo como sendo “compreensível que os realistas e naturalistas preferissem temas ligados aos costumes regionais, aos aspectos sexuais da conduta, à análise psicológica, que aprofundaram singularmente”.
A conclusão é que os escritores naturalistas pretenderam colocar a literatura como uma visão ou um olhar para a realidade, utilizando-se de determinismo, que apresenta o homem como produto do meio e do momento em que vive.
Bibliografia:
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Pallus, 2002 – (Coleção Nossa Literatura) (p. 28, 29, 71)
BOSI, Alfredo, 1936 – História concisa da Literatura Brasileira – 43 ed. – São Paulo : Cultrix, 2006 (p. 190)
CÂNIDO, Antônio; CASTELLO, José Aderaldo. Presença as Literatura Brasileira: Do Romantismo ao Simbolismo – Ed. Difel. São Paulo, 1974 (p. 96)
PROENÇA, Domício. Estilos de época na literatura. Ed. Liceu; 4. Ed. Rio de Janeiro, 1973.
Olá!
ResponderExcluirQue bom que gostou!
Abraços!
o post pode até ser bom mas o livro é horrivel
ResponderExcluirmuito bom
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirQue bom que gostou!
Obrigada!
Mônica Lima Falsarella
muito bom
ResponderExcluirObrigada!
ResponderExcluirVolte sempre!
Mônica Lima Falsarella
foi a minha salvação !!! obg por vc existir ♥
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirObrigada por participar!
Volte sempre!
Mônica Lima